Linguística Textual, uma breve análise da questão nº 01 ciências Humanas e suas Tecnologias (texto citado de Simone de Beauvoir)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

QUESTÃO 01


Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.  
Resposta correta:


Letra C "organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero", o item "C" no caderno de provas de cor branca.


Objetivo: Análise Linguístco Textual, LT, gramática textual.



           Imagine você meu caro leitor se deparar com um texto desfragmentado de alguma autora que nunca leu em sua vida e tiver que acertar a questão por analogia? ou melhor, se você  tiver uma mente mais informada vai logo entender de que se trata de algum a coisa referenciada ao feminismo,ou
questão de gênero, isso porque foi uma grande surpresa para os candidatos ir de encontro a um tema polêmico na atualidade brasileira que versa sobre um pensamento de uma Filosofa que participou de um movimento social na década de 1960 e lutando pelos direitos das mulheres em igualdade de gênero, esse pensamento Beauvoir contribuiu com maestria.
       
          Bom, até aqui tudo bem, mas vamos entender sob ótica da LT que enxerga uma linha de pensamento embasada no conhecimento de uma gramática estrutural e gerativa, mas não iremos entrar em muitos detalhes sobre a  LT  aqui neste texto, tanto porque isso seria em uma outra ocasião.

Segundo  Marcushi, ele  afirma existir um dogma de fé relacionado a gramática do texto,desse modo ao analisar essa questão em que foi citada a autora de ideias feministas,entre aspas,porque de forma implícita  em momento algum ela disse pertencer a tal nomenclatura, mas parece não fazer sentido do elaborador da questão pegar uma frase ou citação e tentar alocar uma conexão conceitual
cognitiva (coerência) em cima de uma contextualização que está isolada do texto original do autor, mesmo que parafraseando os descritores da questão pertinente nos parece que ficou subjetiva,abstrata e longe de interpretações concretas. A partir daí ficamos pensando nessa questão, podemos dizer, ela não foi mal formulada/elaborada, pois o elaborador colocou somente a parte que ela cita em pedaços(fragmentos), fazendo assim como se ela não terminasse sua linha de raciocínio deixando para trás um Leitor sem entender que, se enfatiza somente o fato dessa autora ser feminista e nada mais, porém do ponto de vista do leitor mais que indutivo ele aderiu ao intento do elaborador.
       
          A redação também falou sobre o tema de igualdade de gênero afirmando porque "a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" tem o mesmo seguimento em  aclarar com o  mesmo propósito ?imagina o que isso está a gerar neste momento nas redes sociais?  mas ainda bem que nos estudos de Linguagem não é isso que vamos analisar agora, pois a questão é: se você analisar somente a frase  "ninguém nasce mulher torna-se mulher" vai ter um pensamento autocritico que não dará a autora nenhum respaldo para explicar o que ela quis realmente dizer com isso, e deixando de ir além do texto como um todo.

           Agora meu caro leitor assíduo amigos/alunos e estudantes, iremos tentar força-los a entender melhor , em especial aos que fizeram a prova do ENEM2015, simplificando,desmistificando com alguns conceitos na LT, onde esses ilustres  autores como Leonor Lopes Fávero e Ingedore Villaça Koch, Marcushi, tratam de uma forma o texto não como fragmento mas como um todo, esse é o dogma de fé de que Marcushi carrega consigo, pois o TEXTO é uma unidade linguísticamente superior à frase – e uma certeza: a gramática de frase não dá conta do texto” (p.16) Luiz Antonio Marcuschi. Essa questão foi infeliz nessa parte em desfragmentar uma frase forte de um pensamento inovador  que Ninguém nasce mulher: torna-se mulher"somente essa frase de Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo se tornou tão forte e tão repetida que é, ao mesmo tempo, um tributo e um desserviço a sua obra e fazendo que novamente um texto como esse totalmente desfragmentado se passe por desconhecido aos leitores.
          Percebemos de tão perto esse enigma indecifrável, e o nosso objetivo em enfatizar que,o elaborador tentou tornar implícito os efeitos de sentido desfragmentando de uma forma talvez proposital e enviesada; mas sabemos que temos alunos atentos às questões de gênero, nós mesmo professores, sabíamos que cairia na prova alguma questão de gênero, e logo a profecia se fez, (risos),quem está acostumado com o tema tanto nas questões quanto na redação temos a total certeza que os candidatos se sairia bem, no entanto, nem todos conhecem os textos de  Simone de Beauvoir, e  ainda mais a mente de um elaborador que coloca uma parte de um parágrafo de algum texto deixando  o candidato em dúvidas de não a responder a questão mas sim de entender o que essa autora quis dizer em uma pequena frase, a estudante logo se desespera ou começa rir no exato momento em que se depara com a questão, imaginamos que ele ao menos deveria ter colocado o texto inteiro, pois ninguém é obrigado a saber de tudo, a não ser que leia antes para entender como um todo, por isso o texto não se pode desfragmenta-lo é a sua ideologia, seu raciocínio categorizado ali, isso não é uma simples nomenclatura, vai muito além da frase, e tenhamos dito.

Wilton R. Cruz.




TEXTO não desfragmentado:

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo. O drama do nascimento, o da desmama desenvolvem-se da mesma maneira para as crianças dos dois sexos; têm elas os mesmos interesses, os mesmos prazeres; a sucção é, inicialmente, a fonte de suas sensações mais agradáveis; passam depois por uma fase anal em que tiram, das funções excretórias que lhe são comuns, as maiores satisfações; seu desenvolvimento genital é análogo; exploram o corpo com a mesma curiosidade e a mesma indiferença; do clitóris e do pênis tiram o mesmo prazer incerto; na medida em que já se objetiva sua sensibilidade, voltam–se para a mãe: é a carne feminina, suave, lisa, elástica que suscita desejos sexuais e esses desejos são preensivos; é de uma maneira agressiva que a menina, como o menino, beija a mãe, acaricia-a, apalpa-a; têm o mesmo ciúme se nasce outra criança; manifestam-no da mesma maneira: cólera, emburramento, distúrbios urinários; recorrem aos mesmos ardis para captar o amor dos adultos.
Até os doze anos a menina é tão robusta quanto os irmãos e manifesta as mesmas capacidades intelectuais; não há terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da puberdade e, às vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta como sexualmente especificada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediatamente à passividade, ao coquetismo, à maternidade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é quase original e desde seus primeiros anos sua vocação lhe é imperiosamente insuflada.
O Segundo Sexo, volume 2. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967, 
2ª edição, pp. 9-10


Referências Bibliográficas:


FÁVERO, L.L. & KOCK, I.V. Linguística Textual - Introdução. São Paulo: Cortez. 1983. MARCUSCHI, L.A. Linguística de Texto – o que é e como se faz. Recife: Série Debates 1, Universidade Federal de Pernambuco, 1983. NEIS, I.A. “Por uma Gramática Textual”. Letras de Hoje, 44, PUC/RS, 1981.









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