Etimologia

terça-feira, 29 de novembro de 2011 0 comentários

Etimologia não é brincadeira!


Se alguém te disser que “adolescente” tem a ver com “doença”, caia na gargalhada. É mentira! Se te disser que “aluno” vem do latim “alumnus” e quer dizer “sem luz”, mande a pessoa estudar! E se tentarem te convencer que “cuspido e escarrado” é uma deturpação de “esculpido em Carrara”, prefira acreditarem saci-pererê. Quemnão gosta de etimologia? Pelo menos saber a origem e o significado do próprio nome, taí uma coisa que atrai todo mundo. O problema é que a retumbante maioria das pessoas que andam por aí distribuindo etimologias a granel não têm formação nem informação para fazer isso. O que elas realmente oferecem são abobrinhas etimológicas ou, melhor, pseudo-etimológicas.

Ligo a televisão e me prometem uma reportagem sobre a cidade de Penedo (RJ). Aparece o repórter com microfone na mão e dispara: “Penedo na língua dos índios quer dizer pedra grande”. Nossa Senhora da Penha, orai por nós! Os índios não têm nada a ver com a palavra Penedo, que está em qualquer dicionário de português com o significado de “pedra grande, rochedo” e é parente de “penha”, “penhasco” etc.

A etimologia é uma ciência, e das mais antigas. O filósofo Platão já se interessava por ela e escreveu um de seus famosos diálogos, o Crátilo, em torno da questão da origem das palavras. A partir do século XIX, com o nascimento da linguística científica, a etimologia se consolidou, principalmente graças ao trabalho de muitos alemães. Foi nesse período que se começou a conhecer o parentesco entre as línguas, como as da família indo-europeia, sua origem comum numa língua ancestral que sofreu mudanças à medida que seus falantes iam migrando em grupos diferentes para diferentes direções. É assim que sabemos que o português é parente de centenas de línguas faladas na Índia, por exemplo. A palavra sânscrita Veda (“conhecimento”) é parente da grega idea (que muito antes era widea, “ideia”) e do latim “video” (“eu vejo”): como três quartos do nosso conhecimento do mundo nos entram pelos olhos, não admira que exista uma relação entre “ver” e “conhecer”.

Em bancas de jornal e páginas da internet pululam as listas de nomes próprios e seus significados. Para mim, funcionam como um livro de piadas. Aliás, proponho que criemos a palavra “etimoludia” para designar essa brincadeira, essa gozação com as (falsas) origens das palavras. Assim como se faz a oposição entre astrologia e astronomia, alquimia e química, podemos fazer a contraposição entre a “etimoludia” (baboseiras sem fundamento) e a etimologia científica.

As pessoas sem formação séria na área da linguística também imaginam que as línguas de povos “exóticos” são diferentes em tudo e por tudo das línguas mais conhecidas, ocidentais. Assim, quando vão dar o significado de alguma palavra dessas línguas, descambam para a pseudopoesia e o exagero. O nome Leila, por exemplo, significa tão somente “noite” em árabe (laylá) e não “escura como a noite estrelada do deserto”. Blergh!


Por Marcos Bagno – Maio de 2011