Língua viva: défice, déficit ou deficit?

domingo, 21 de setembro de 2014 0 comentários
Andando nas bocas do mundo, a escolha desta palavra é adequada aos tempos. Embora sejamos nós a ter um programa de assistência financeira, a confusão (linguística, bem entendido…) reside no Brasil. Por cá, tudo clarinho!
1. Défice é o termo mais comummente usado em Portugal. É uma palavra esdrúxula (daí o acento) adaptada do latim deficit.
2. Também é possível recorrer ao latim deficit (3.ª pessoa do singular do presente do indicativo de deficĕre, «faltar»). Não havendo acentos em latim, a forma “déficit” não faz sentido.

CONCLUSÕES:
Portugal (norma luso-afro-asiática)
défice e deficit
Notas: As fontes são unânimes.
Brasil (norma brasileira)
défice e deficit (e déficit?)
Notas: Cada fonte sua sentença:
1. O Ciberdúvidas diz, em 1998: “No Brasil, utiliza-se a forma déficit.”
2. Academia Brasileira das Letras: défice.
3. Dicionários:
a) Michaelis: deficit; b) Dicionário Online do Português: défice, deficit déficit; c) Houaiss: deficit;
d) Aulete: défice e déficit.
4. Num fórum brasileiro, encontrei esta passagem: “É DEFICIT, sem acento. Segundo o professor Luiz Ricardo, da Uerj, o novo acordo prevê a não acentuação dessa palavra, bem como de superavit e habitat.”
Não encontrei no texto do Novo Acordo referências a nenhuma das palavras indicadas, o mesmo acontecendo com o Formulário Ortográfico de 1943…
 
Irei diversificar a pesquisa. Se chegar a uma conclusão, voltarei ao assunto.

O aparelho formal da enunciação

quinta-feira, 18 de setembro de 2014 0 comentários

                                                    
                                                        RESUMO DO CAPÍTULO.


   Benveniste começa fazendo uma distinção entre funcionamento e forma da língua. Segundo o autor, o funcionamento que tem sido considerado somente sob o ângulo da nomenclatura gramatical e morfológica não satisfaz. O que temos que ter em mente é que as condições de emprego das formas não são idênticas ao emprego da língua, porém para toda descrição linguística necessita do emprego de formas. Quando falamos no emprego da língua em situações específicas estamos nos referindo a um sujeito que se apropria da língua (ato individual de utilização) e a coloca em funcionamento, ou seja, cria a enunciação.
   
   Este grande processo que é a enunciação nos faz perceber como “o sentido” se forma em “palavras” e como distinguir entre essas duas noções em que temos que descrever a sua interação. Conforme Benveniste, é a semantização da língua que está no centro desse processo que nos conduz à teoria do signo e à análise da significância. Percebemos como as formas linguísticas se diversificam e se engendram.
   Na enunciação devemos considerar o ato e as situações em que ele se realiza, e ainda os instrumentos de sua realização. O ato individual pelo qual se utiliza a língua introduz em primeiro lugar o locutor como parâmetro nas condições necessárias da enunciação.
   Antes da enunciação a língua é possibilidade de língua, depois da enunciação a língua é posta nas instâncias das categorias (eu, tu ,aqui e agora) e isso necessita de um locutor (enunciador) e um interlocutor (enunciatário) que por sua vez ouve e possibilita um retorno enunciativo. Em outras palavras, o locutor se apropria do aparelho formal da língua e enuncia a sua posição de locutor por meio de indícios específicos. Para Émile, a referência é parte integrante da enunciação, pois o locutor necessita referir pelo discurso e para o outro a possibilidade de co-referir identicamente no consenso pragmático que faz de cada locutor um co-locutor.
   É interessante observar também a importância do termo “presente” como o momento da enunciação. Em consonância com Benveniste, da enunciação é que instaura a categoria de presente e desta surge a categoria de tempo. O presente é que dá origem do tempo, marcado pela enunciação. Vale ressalvar que é por meio do tempo presente que nasce o passado e o futuro. Para Benveniste, “O presente formal não faz senão explicitar o presente inerente à enunciação que se renova a cada produção de discurso” e todo esse processo se dá num continuum, ou melhor, “imprime na consciência um sentimento de continuidade que denominamos tempo”.
   Para finalizar, cada enunciação serve o propósito de unir um ouvinte ao locutor por alguns traços de sentimentos, social ou de outro tipo. Uma vez que a linguagem, nesta função, manifesta-se-nos, não como um instrumento de reflexão, mas como um modo de ação. Benveniste finaliza o capítulo dizendo: “Muitos outros desdobramentos deveriam ser estudados no contexto da enunciação. Ter-se-ia que considerar as alterações lexicais que a enunciação determina, a fraseologia, que é a marca frequente, talvez necessária da oralidade” e que seria preciso também distinguir “a enunciação falada e a enunciação escrita”, pois esta última “se situa em quem escreve se enuncia ao escrever e , no interior de sua escrita, ele faz os indivíduos se enunciarem”.

Abraços !


REFERÊNCIA:


BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral II. 4. ed. Campinas, SP: Pontes, 1995.

Fonte: http://linguisticopatas.blogspot.com.br/.